quarta-feira, 6 de abril de 2016

Revolução

No meio do nada, nada acontece e uma revolução inflama dentro de mim.
Em pleno motim, com loucos incendiários e outros invasores, todas as portas se abrem aqui.
Num repente tudo fica a descoberto e sem dono, pertencendo a terra de  ninguém.
Aparentemente a paz reina em cada sitio abandonado, em cada quarto remexido.
Mas esse rasto deixado por mãos que rasgam, por passos que agridem, um rasto com cheiro a terra e sangue queimado, esse rasto jamais o esquecerei.

São  memórias...apenas memórias.
Memórias ardentes que fazem lembrar a crueza do agora.
São memórias...apenas memórias .
Memórias que fazem temer o futuro pela experiência do passado.

Ah....
São memórias ...apenas memórias...

terça-feira, 28 de julho de 2015

cicatrizes

Páro o relógio na intenção de pensar.
Por entre pensamentos fechei as portas dos sentidos;
os poros da pele fecharam-se e o teu toque não mais entrou.
O olhar vazio com que te miro esconde o turbilhão que sinto.
O sorriso ôco de emoção protege a debilidade do meu coração.
O carinho seco que te dou disfarça a dor que tanto omito.
A dança alegre e tôla, evita as lágrimas que explodem.

(Escrito a 22 de Julho de 2011)


domingo, 7 de junho de 2015

A praia


Há dias em que tenho a sensação que a felicidade me torna insignificante, desprovida de emoções profundas.

Parece que a tristeza me torna especial e única; um ser cheio de conteúdos complexos, melancólicos e angustiantes. É aí que me torno diferente dos demais.

Na felicidade sou mais uma tonta sorridente, sem preocupações reais ou existenciais. Sou um ser bidimensional, sem relevos ou texturas, simplesmente plana e atoleimada.

A felicidade traz a esperança, traz a luz, mas em nada traz o pensamento e a profundidade.

A felicidade torna-se triste de tão volátil e efémera que é.
A felicidade, essa que nunca é tangivel e muito menos palpável.
A felicidade é exactamente igual à areia: já colocada na mão, escorrega por entre os dedos e por mais movimentos que façamos para a reter, ela acaba sempre por fugir. Ficam apenas pequenos grãos, colados devido à transpiração da mão, como se de memórias se tratassem, deixando-nos na ansiedade da expeactativa da próxima mão de areia.

Como somos tolos, sabendo à partida que ela nos vai fugir de novo, garantidamente, em insistirmos na sua procura, para entao ficarmos de novo com aqueles grãos colados na mão.

humm....e quão preciosos sao esses pequenos grãos...

Mas para quê querermos esses poucos grãos presos às nossas mãos, se livres podem formar dunas com curvas envolventes, praias imensas e pequenos paraísos, e se livres nos proporcionam aquela sensação tão boa dos pés envolvidos e o corpo acolhido quando neles deitado?!

humm...que bom que é chegar a casa e ter os ditos grãos colados nos pés dando-nos o passaporte da lembrança sobre a viagem àquela praia.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Mágoas

Deixa-me quieta,
por favor não me toques.
podes sentar-te ao largo,
mas peço-te: não me interfiras.

Deixa-me muda,
por favor não me toques.
podes falar sem perguntar,
mas peço-te: não me incomodes.

Deixa-me só,
por favor não me toques.
podes sair sem ruído,
mas peço-te: não me avises.

terça-feira, 30 de novembro de 2010

O Quarto

Entro no quarto...
está calor...desagrada-me.
desconheço estes objectos...de onde vieram?
recordam-me momentos...que momentos?

Sento-me no chão...
olho em volta...desagrada-me.
reconheço os objectos...de quem são?
a sua forma não me é estranha...quem os arrumou?

Levanto-me...
toco nos livros...desagrada-me.
lembro-me de historias...quem as escreveu?
a escrita parece minha...quem os leu?

Fecho os olhos...
respiro fundo...consola-me.
identifico o cheiro...de onde vem?
o perfume do pó é familiar...quem limpou?

Arregaço as mangas...
ganho força...agrada-me.
reconheço o quarto...por onde começar?
o calor é acolhedor...

Do chão frio, algo me diz que o calor das prateleiras já não me aquece.

Assim recomeço a arrumação do quarto...

quinta-feira, 8 de abril de 2010

O Novo

Nas viagens que fiz muito explorei,
Descobri o desconhecido,
desbastei novos caminhos,
Adquiri novos conhecimentos,
Passei para outro patamar...

...E perdi o mapa...

Não sei onde estou,
Não conheço...tenho medo.
Sinto-me pequena e insegura.
Faz parte do bilhete que comprei...

...Eu sei...

Com tanto que descobri,
Porque é que só penso no que não conheço?!
Com tanto que percebi,
Porque é que sinto que nada sei?!
Faz parte da viagem...

...Eu sei...

As certezas que ganhei,
Em incertezas se multiplicaram.
As seguranças que construí,
Em inseguranças se transformaram.
Faz parte do trilho...

...Eu sei...

Talvez procuro o mapa no sitio errado,
Possivelmente ele nem existe.
Já alguém atravessou estas trilhas?!
Já alguém as viu como eu as vejo?!
Parece-me que não...

...Eu sei...

Terei que as atravessar sozinha dentro de mim,
atentando às luzes que do exterior me enviam
E que dentro de mim acendem!

...Será uma viagem interessante...


Obrigada pai, pela luz enorme que me acendes!

Conversa com o tempo

Que fique então, à espera o amanhã,
Que hoje não me apetece viver!

"Então?" perguntou o tempo,
Ignorando-o lhe respondi.

Há muito espantei os relógios
E agora tanto que os procuro.

Sem resposta me fugiu,
Trazendo as horas, se vingou.

Aguardo a resposta de hoje,
Pedindo a esperança de um amanhã.
Nada do que o tempo traga,
Tolera tanto do que amanhã sonharei!